Meus alunos do TEA me sacaneiam: “Professora, vai juntando um dinheirinho”, me diz um deles. “Você virou fã de Maratea?” ri outro. A coleção ainda não começou, mas o tema já está instalado. É meio-dia de quinta-feira e o influenciador acaba de chegar ao estádio para anunciar o resgate do Independiente. Na tela que está na sala de aula vemos quando ele abraça Pepé Santoro. “Quem é aquele velho?”, pergunta-me um desrespeitoso.

É um dia atípico para o Independiente. Não há empates brandos, embargos de ex-jogadores ou demissões de presidentes, essas questões a que já estamos acostumados. Hoje está acontecendo algo inédito: um garoto de boa cara e de alta confiabilidade vai se empenhar em arrecadar os 20 milhões de dólares que o clube deve com a contribuição da torcida.

Ainda não digeri a proposta. Sei que não é saudável, que essa alternativa é um remendo que encobre a ineficiência e as más intenções dos dirigentes que passaram nos últimos vinte anos. Mas também sei que o clube está em terapia e que algo precisa ser feito. Estava pensando nisso quando, por mensagem direta do Instagram, me bate a primeira surrada: “Peço-te um sol, um sol para os avermelhados…”, um refrão improvisado canta ao som da melodia do programa que o Canal 13 e o Unicef ​​​​organizam todos os anos e que Julián Weich costuma dirigir. Maldito Lucho: deixou a desejar no último clássico e agora aproveita.

Começa a circular a foto de Maratea com a camisa vermelha que lhe deram. No verso ele tem o sobrenome e o número 10. Imagino a avalanche de memes que vai rolar. O que não posso suspeitar neste momento é a resposta excessiva que a coleção terá.

O garoto de boa cara explica tudo na coletiva de imprensa. Esclareça dúvidas, suspeitas e especulações. Bah, é isso que você está tentando fazer. Até que ele olha para o telefone e fica chateado: em menos de uma hora já levantou 74 milhões de pesos. Ele mostra para as câmeras, na sala que eles aplaudem. A maré vermelha começou e é imparável.

Os grupos wasap são. Histórias emocionais competem de mãos dadas com espirituosos. Um amigo me conta que seu filho perguntou se ele poderia colocar o dinheiro que o rato Pérez havia deixado para ele. Choro. Alguém circula uma modificação do escudo vermelho: Club Atlético Influencer. Um conhecido conta que um torcedor do Newell’s contribuiu com mil pesos. Um NN entrou no google maps e mudou o nome do campo do Independiente: batizou-o de “ONG Maratea”. Enquanto as redes explodem, em duas horas já foram arrecadados mais de 200 milhões de pesos.

Tenho amigos que falam de “refundação”, de “momento histórico”, escrevem “somos lenda”, calculam que “neste ritmo na quarta-feira pagaremos a América do México”. O entusiasmo me desgasta. Rolfi disse ao TyC Sports que um grupo foi formado com mais de uma centena de ex-jogadores do clube que vão contribuir para a causa. Montenegro ainda não terminou de dar detalhes e a arrecadação de 250 milhões de pesos, mais de um milhão de dólares pelo câmbio oficial.

No Twitter publicam uma história para as chorosas: um garoto de Tafí del Valle, em Tucumán, vendeu as únicas botinhas que tinha para colaborar com a coleção. Até José Chatruc, campeão com o Racing em 2001, comenta que deu sua contribuição. A onda Maratea já é um tsunami. É tendência nas redes sociais e invade grupos de wasap. Quantos torcedores do Independiente estarão esperando o discurso que o CFK fará em La Plata às seis da tarde?

Não é um momento de felicidade, é claro. Ter que recorrer a um influenciador para sair de uma falência iminente é debater muito e muito. Mas a reação do povo do Independiente é comovente. Ao torcedor só faltou uma referência confiável, até que apareceu do lugar menos esperado. Se essa arrecadação fosse promovida por uma liderança, não daria nem para pagar o motorista do ônibus.

Há alguns anos, quando o San Lorenzo recuperou o terreno da Avenida La Plata, invejei a iniciativa que começou no delírio de um torcedor e terminou com o Carrefour do lado de fora do imóvel. Os fãs do corvo estufam o peito para essa façanha. E não é para menos: são poucos os torcedores que podem afirmar ter sido protagonistas ativos do destino de seu clube. Os do Independiente agora podem dizer o mesmo.

São 22h30 e antes de começar os capítulos restantes da série de Fito, vou ao Instagram de Maratea. Na conta há 400 milhões de pesos. Quase dois milhões de dólares em dez horas. Enquanto alguns estão ocupados pensando em memes, nós conseguimos.

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