torres de anderson, ex-ministro da Justiça durante o governo de Jair Bolsonaro e depois responsável pela área de segurança em Brasília, está preso no Brasil. Neste sábado, assim que desembarcou do avião que o trouxe de volta das férias dos Estados Unidos, o líder Bolsonaro foi imediatamente preso, sob acusações que o apontam como aquele que teria “liberado” a área de a capital onde ocorreram as grandes manifestações de opositores, que destruíram as sedes do Parlamento e do Executivo, assumindo o novíssimo governo do presidente Lula da Silva em sua primeira crise de magnitude.
Torres, depois de seu trabalho no gabinete, havia sido nomeado secretário de Segurança da capital, de modo que os incidentes do dia em que milhares de simpatizantes do líder de extrema-direita devastaram a sede do poder público, com intervenção policial tardia, eram de sua responsabilidade.
Após essas manifestações, Torres foi afastado do cargo em decorrência do assalto, e dos Estados Unidos havia anunciado pelas redes sociais que voltaria ao Brasil para “compare perante a justiça e defenda a sua inocência”.
Torres desembarcou neste sábado de volta ao Brasil, um dia depois de o atual ministro da Justiça, Flavio Dino, ter dito que acionariam mecanismos de cooperação internacional caso ele não voltasse voluntariamente.. A operação no aeroporto de Brasília foi realizada discretamente, e a Polícia Federal, responsável pela prisão, manteve distância da mídia.
No último domingo, milhares de seguidores do direitista Bolsonaro invadiram os gabinetes da Presidência, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, em um ataque à democracia brasileira. Alexandre de Moraes, juiz da Justiça brasileira, provavelmente sua prisão pelo suposto “conluio doloroso” com os atos violentos de apoiadores de Bolsonaro.
Depois da violência em Brasília, que futuro espera o bolsonarismo?
O próprio Moraes autorizou, na noite desta sexta-feira, pedido da Procuradoria-Geral da República, incluindo Bolsonaro nas investigações que buscam esclarecer quem foram os mandantes e mandantes do atentado. Bolsonaro insiste que “não tinha ligação” com as manifestações violentas e, através do seu advogado, reiterou que “é inocente do sucedido”, embora tenha defendido o “direito de protesto” de forma velada.
Torres agora também deve dar explicações em relação a um projeto de decreto presidencial, sem assinatura mas com o nome de Bolsonaro, que foi encontrado em sua casa, e que falou em decretar estado de emergência, ignorando como “fraudulento” o resultado das eleições acirradas que Lula acabou vencendo e o devolveu ao poder após seus dois mandatos anteriores.
Aperte o cerco a Bolsonaro
Enquanto Torres já está preso, as autoridades brasileiras apertam o cerco em torno de Jair Bolsonaro, por suspeita de “estar por trás” do golpe de 8 de janeiro em Brasília. Os promotores destacaram em seu pedido para processar Bolsonaro um vídeo que o ex-presidente postou em suas redes sociais no dia 10 de janeiro, dois dias após os ataques, insistindo em seus questionamentos sobre o resultado eleitoral de outubro.
Em nota enviada à AFP na sexta-feira, a defesa de Bolsonaro voltou a negar qualquer envolvimento do ex-presidente nos atos de vandalismo do último domingo, que além de enormes perdas materiais deixaram mais de 1.800 detidos.
“Ele (Bolsonaro) nunca teve relação ou participação nesses movimentos”aponta para a nota dos advogados do líder direitista, que acusaram “infiltrados” dos danos e distúrbios.
“Incitamento público”
No entanto, para a Procuradoria Geral da República existe “elementos que suportam a investigação” contra o ex-presidente, que nunca reconheceu a vitória de Lula e deixou o país antes do fim do seu mandato e da cerimónia de transmissão do comando.
A entidade considera que Bolsonaro “fez incitação pública à prática de crime” ao fazer o upload do vídeo. Apesar de o vídeo ter sido publicado dois dias depois dos atentados na capital, e deletado no dia 11, o Ministério Público acredita que a conduta do ex-presidente revela uma “conexão probatória” entre os fatos.
“Há uma relação entre o vídeo e os ataques, é um indício que pode sugerir um envolvimento maior de Bolsonaro”, disse à AFP Mario Schapiro, professor de direito da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo. O pedido de interrogatório de Bolsonaro, que está nos Estados Unidos, será analisado “oportunamente”, esclareceu o juiz Moraes.
Os violentos ataques ao coração do poder em Brasília correram o mundo e as imagens foram comparadas ao golpe contra o Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021. O ministro da Justiça de Lula, Flávio Dino, disse nesta sexta-feira que não realizou procedimentos para pede a extradição do ex-presidente, que nesta sexta-feira finalmente mudou sua biografia no Twitter que até ontem o descrevia como o “presidente” do Brasil.
O professor da FGV disse que Bolsonaro poderia receber ordem de prisão se houvesse indícios de sua participação nos eventos e sua liberdade colocasse o processo em “risco”. Schapiro acrescentou que agora “ele não vê razão para solicitar sua extradição.”
“Havia um plano”
Para o novo titular da Justiça, Flavio Dino, a descoberta de um projeto de decreto declarando a minuta do “estado de exceção” na casa de Torres “relata os acontecimentos a partir de 30 de outubro [segunda vuelta de las presidenciales] até 8 de janeiro, e mostra que o que aconteceu não é uma simples série de casos isolados, e que houve planejamento”.
Torres disse no Twitter que “provavelmente o material descrito foi encontrado” entre documentos para jogar fora e afirmar que o rascunho “Esse texto está sendo descontextualizado”. O saque das sedes dos poderes públicos coroou meses de tensão política no Brasil, que passou por uma campanha eleitoral visceral após a qual Lula prevaleceu sobre seu arquirrival Bolsonaro por menos de dois pontos percentuais.
AFP/HB
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