O IAE Gral. Mosconi acaba de publicar seu Energy Trends Report com dados de dezembro de 2022. Um olhar inter-relacionado permite inferir tendências profundas na evolução do setor. Alguns são encorajadores; outros, preocupados.
A formação Vaca Muerta em Neuquén tornou-se a jazida estrela da Argentina, está em uma fase de crescimento dinâmico e sua produção visa uma “janela de oportunidade global de curto prazo”. Mas para aproveitar a oportunidade, gargalos gigantescos teriam que ser removidos.
Em 2023, o abastecimento interno de energia encontra-se numa fase crítica que levanta questões sobre como e quando os iremos resolver.
1.- A eletricidade, numa encruzilhada.
– Nos últimos 12 meses, a demanda por eletricidade aumentou 3,2% em relação a 2021. Mas a geração de eletricidade ficará devendo 2,1%. Argentina recua na produção e recorre a importações: Brasil, Uruguai e Paraguai. Resultado: as importações como um todo cresceram 666% no ano; e já representa 4% da nossa demanda interna.
– O ano de 2022 terminou com péssimo desempenho do parque gerador, que por falta de manutenção adequada; Por indisponibilidade de combustível e outras causas, manteve fora de serviço cerca de 12.000 MW, um valor inaceitável para o qual a Cammesa deve dar uma explicação fundamentada.
– Decorre dos relatos que o parque gerador utiliza uma maior proporção de combustíveis que geram gases de efeito estufa (GEE). O gás natural será produzido na geração termelétrica em 13,2%; e em seu lugar o óleo combustível aumentou 48,7%; e diesel 20,2%; e ambos emitem mais GEE.
– Em 2022, observa-se uma queda na geração nuclear, que atualmente representa apenas 5,4%, quando há um ano representava 7,7% do total gerado. Há também uma acentuada estagnação das energias renováveis promovida pela lei 27.191, cuja taxa de expansão neste ano foi de 11%, quando em 2021 o crescimento dessas energias havia sido de 32,8% ao ano.
2.- A Argentina, em um contexto de guerra e demanda internacional por energia, importa mais do que exporta, e seu déficit crônico de energia aumenta.
O mundo é fortemente impactado pelas consequências energéticas da guerra na Ucrânia. Há países que se beneficiaram e outros que foram prejudicados pelo conflito. A Argentina –apesar de sua enorme disponibilidade de recursos energéticos– não tem conseguido capitalizar esta demanda global por maiores exigências de volume e preços de venda mais altos.
O relatório mostra que o país sofreu pesadas perdas em seu comércio exterior de energia. Em 2021, a balança comercial de energia foi negativa em US$ 559 milhões; em 2022, esse déficit multiplicou-se oito vezes, chegando a US$ 4,47 bilhões. Verificou-se também que as quantidades importadas aumentam em maior proporção do que as quantidades exportadas.
3.- Hidrocarbonetos, dupla performance: crescimento sustentado em Vaca Muerta e queda nas demais bacias.
O país acentuou sua dependência externa; Vários fatores se juntaram. Um grande crescimento anual na produção de petróleo bruto de Vaca Muerta -49% em relação a 2021-; além disso, um aumento de 37% na produção de gás na formação. Esses valores são compensados negativamente pelas quedas em todas as bacias convencionais cuja produção cai 3,3% e 8%, respectivamente, algo que preocupa muito os dirigentes sindicais não neuquenses.
Como resultado, os aumentos anuais em petróleo e gás são modestos, atingindo 13% no petróleo total e 7% ao ano no gás natural. Quando estes valores são confrontados com o aumento da procura interna tanto de gás como de petróleo, não sobra muito pano para cortar.
4.- Um elogio especial aos produtores nacionais de biocombustíveis.
Biodiesel e etanol levam as palmas produtivas. O aumento de sua produção em doze meses (dados de novembro) superou o de todos os itens tradicionais: o biodiesel cresceu 23% em 2022; e etanol, 14,8%. Eles abasteciam o mercado e também exportavam.
* Ex-Secretário de Energia e Presidente do IAE Gral. Mosconi.
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