O candidato governista Sergio Massa e o ultraliberal Javier Milei irão ao segundo turno de uma das eleições mais disputadas da história recente da Argentina.
Com 90% dos votos apurados neste domingo (22/10), Massa tinha 36% e Milei, 30% do total, mas os dois não podem ser mais alcançados pela terceira colocada na corrida, a candidata conservadora e ex-ministra de Segurança na gestão Mauricio Macri, Patricia Bullrich, que teve 23%.
O segundo turno ocorre no próximo dia 19 de novembro.
A votação contrariou os prognósticos feitos durante a corrida, que colocava Milei na frente, com chances de ganhar a eleição logo no primeiro turno, e Massa, como representante de um governo mal avaliado, embolado com Bullrich pela segunda posição.
Na Argentina, para ganhar no primeiro turno um candidato deve ter 45% dos votos ou 40% com 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.
Segundo dados da justiça eleitoral local, 74% dos argentinos aptos a votar (35 milhões no total) foram às urnas. É o menor índice de participação eleitoral desde a volta da democracia ao país, em 1983. Como no Brasil, o voto é obrigatório na Argentina.
A minutos do encerramento das urnas, a Casa Rosada, sede da presidência argentina, recebeu uma ameaça falsa de bomba. Mas no decorrer do dia de votação não foram registrados incidente graves em todo o território, segundo informou a justiça eleitoral argentina.
A reta final da corrida na Argentina geralmente se resumia a dois candidatos com chances de vencer, mas nesta eleição três chegaram ao dia de votação com possibilidades de avançar ou ganhar em apenas um turno.
O peronismo correu risco de ficar fora da definição do novo presidente argentino. Há muitas décadas, o país tem sua política decidida entre o movimento político fundado pelo ex-presidente argentino Juan Domingo Perón (1895-1974) e a oposição a ele.
A Argentina vive no momento um cenário de declínio econômico, com 40% da população abaixo da linha da pobreza e uma inflação anual que chegou a 138% em setembro último.
As pesquisas mostraram vantagem de Milei em um eventual segundo turno com Massa, mas o ministro da Economia teve uma votação maior do que a esperada.
Quem é Sergio Massa
Diante do péssimo quadro da economia argentina, a chegada do atual ministro da Economia ao segundo turno já era vista como surpreendente na reta final da eleição argentina.
O advogado Sergio Massa, da coligação peronista União pela Pátria, é o candidato governista à sucessão do impopular presidente Alberto Fernández.
Massa tem procurado um equilíbrio difícil, mostrando-se ao mesmo tempo como um representante do governo do qual faz parte e uma alternativa a ele.
No mês passado, ele declarou no canal LN+ que, dos atuais membros do gabinete, “pelo menos metade não seriam ministros” com ele como presidente.
Ele também sublinhou que assumiu a liderança econômica no meio de uma emergência, em vez de ficar escondido “debaixo da cama”.
Durante a campanha, Massa foi cobrado pelos recentes escândalos na província de Buenos Aires, bastião peronista que concentra quase 40% dos votos.
Um desses escândalos foi a demissão do chefe de gabinete provincial, Martín Insaurralde, da mesma coligação de Massa, depois de terem sido reveladas fotos que o mostravam em Marbella a bordo de um luxuoso iate chamado “bandido”, ao lado de uma modelo e servindo champanhe.
Após o caso, Insaurralde pediu demissão do cargo. No último debate dos candidatos presidenciais, este caso foi mencionado insistentemente por Bullrich.
Diante das chances reais de Massa se manter na eleição, nos últimos dias o ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica disse que “a Argentina é uma coisa indecifrável”.
“Como você explica que o ministro da Economia, com uma inflação como a da Argentina, vai brigar pela presidência?”
Para Mujica, a resposta é o peronismo surgido com o general Juan Domingo Perón em meados do século passado e como a vertente tem uma enorme capacidade de regeneração política.
Quem é Javier Milei
Com um discurso agressivo contra a classe política e comparado ao brasileiro Jair Bolsonaro e ao norte-americano Donald Trump, Javier Milei, de 53 anos, se tornou a grande surpresa do cenário político argentina ao vencer as eleições presidenciais primárias de agosto.
Formado como economista da Universidade de Belgrano, ele participou várias vezes como analista da área em programas de televisão. Milei venceu a sua primeira eleição, como deputado, há apenas dois anos, e se autodenomina um “economista anarcocapitalista”.
O candidato do grupo A Liberdade Avança tem agitado os debates políticos com propostas como a dolarização da economia, a privatização de estatais e o fechamento (ou “dinamitar”, em suas palavras) do Banco Central. Em uma de suas declarações mais ruidosas, Milei chamou o peso argentino de “excremento”.
Ele também já anunciou ideias como a permissão à venda de armas e órgãos humanos. Soma-se a isso sua oposição à legalização do aborto e à educação sobre questões de gênero nas escolas públicas. Uma de suas plataformas é fundir os ministérios da Educação e Saúde.
Em várias ocasiões, especialmente durante a campanha presidencial, Milei afirmou ser a favor de que os argentinos possam comprar armas livremente, justificando para isso o aumento de incidentes de segurança em algumas áreas do país.
Outro alvo de Milei é a China, mas dado que a Argentina desbancou o Brasil como o principal destino de investimentos chineses na América Latina no ano passado, analistas consideram pouco provável um rompimento entre os dois países.
Milei, durante a campanha, pareceu atrair muitos eleitores da chamada Geração Z, que o conheceram há dois ou três anos através de programas de televisão e das redes sociais, especialmente o TikTok.
Em uma carreata na província de Buenos Aires, jovens com idades de entre cerca de 18 e 21 anos gritavam “Milei presidente”. E quando perguntados por um repórter local como o tinham conhecido, disseram que foi através do TikTok.