A vice-presidente, Cristina Fernández de Kirchner, falou no III Fórum Mundial de Direitos Humanos ao lado de ex-presidentes que compõem o Grupo Puebla, como Evo Morales (Bolívia), José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), Rafael Correa (Equador), Ernesto Samper (Colômbia) ou José “Pepe” Mujica (Uruguai). Também participaram juristas como Baltasar Garzón e Gisele Ricobom, advogada do Conselho Latino-Americano de Justiça e Democracia (Clajud). Todos se referiram ao lawfare como o mecanismo utilizado por setores do Judiciário, da grande mídia concentrada e de grupos políticos para condicionar governos progressistas. Foi uma demonstração clara de apoio regional.

Nesse cenário, o vice-presidente disse que “a construção de uma nova Argentina começou em 2003 (…). Esse homem, juntamente com Lula no Brasil, simultaneamente decidiu pagar ao FMI, para que nunca mais pudesse dirigir a economia da Argentina. E acrescentou: “foi a década virtuosa. Foi o momento em que mais se reduziu a desigualdade econômica e social da região, essa é a chave. Eles não nos perseguem porque somos populistas, eles nos perseguem porque igualamos as sociedades, pela justiça social, pelo direito dos trabalhadores de participar ativamente do produto bruto do que produzem. Ele então argumentou que a ditadura, que produziu o desmonte dos direitos políticos, econômicos, trabalhistas e sociais e a deterioração das condições de vida da maioria, simbolizou mortes e desaparecimentos, mas também a “destruição de um modelo de país”. Desta forma, Cristina Fernández de Kirchner voltou a situar a discussão em torno do confronto de dois modelos. Uma que, entre outras conquistas, reduziu a desigualdade e promoveu ascensão social; e outra que destruiu todos os avanços e direitos conquistados pelas maiorias, como aconteceu com a ditadura cívico-militar e com os governos de Carlos Menem, Alianza e Cambiemos. É modelo contra modelo. Ontem, hoje e no futuro.

Nessa perspectiva, o vice-presidente concluiu: “Não me importa se vão me prender, o que me importa profundamente é que reconstruamos um Estado democrático e constitucional em que as garantias estabelecidas pela Constituição não sejam pintadas cartão. A reconstrução de um país como o que tivemos pode ser feita porque nós o fizemos uma vez.”

Em outra ordem de coisas, na última semana, o ministro da Economia, Sergio Massa, fez dois pronunciamentos.

Inserimos alguns dados para poder contextualizar esses anúncios. O Estado argentino emitiu dívidas de cerca de 350 bilhões de dólares, incluindo emissões em moeda estrangeira e local. Do total dessa dívida pública, aproximadamente 46% é dívida intra-estadual. Ou seja: uma parte do Estado deve a outra parte do Estado quase a metade da dívida da Argentina.

Nesse contexto, uma das iniciativas anunciadas é que quatro bilhões de dólares emitidos pelo governo nacional sob legislação estrangeira que estejam em mãos de órgãos públicos sejam retirados do mercado e os títulos duplos sejam entregues aos detentores de títulos, ou seja, baseiam-se na melhor de duas variáveis: ou pela taxa de câmbio, se vencer a inflação ajustada, ou pela inflação, se vencer a taxa de câmbio. Além disso, esses títulos não estarão mais sob a lei estrangeira.

O segundo anúncio é que será unificada a gestão dos títulos da dívida argentina distribuídos entre 113 entidades públicas. O Tesouro Nacional passou a ter uma gestão centralizada deles.

Desta forma, a Argentina melhora o perfil de sua dívida ao trocar o Estado nacional emitido sob legislação estrangeira por títulos do Estado nacional emitidos em pesos atualizados pela taxa de câmbio ou pela inflação.

Ao estabelecer suas linhas mestras ou através da implementação de medidas de gestão cotidiana, o Governo opta por continuar aprofundando um modelo de país que, com seus sucessos e seus fracassos, visa melhorar a vida da maioria dos argentinos e dos argentinos.

*Deputado nacional pela Frente de Todos e presidente do Partido da Solidariedade.

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