- Vladimir Hernández
- Enviado especial da BBC Mundo a Caracas
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, admitiu na sexta-feira que houve excessos das forças de inteligência na contenção dos protestos antigoverno que se espalham pelo país, mas afirma que os excessos aconteceram por descumprimento de ordens.
Em encontro com correspondentes estrangeiros no palácio de governo, o presidente foi questionado pela BBC Mundo a respeito do que o Estado venezuelano fará diante das numerosas acusações de violações de direitos humanos, tortura e detenções arbitrárias que recaem sobre as tropas do país.
Maduro insistiu que funcionários do serviço de inteligência estatal, o Sebin, desobedeceram ordens expressas de manter-se aquartelados e coibiram manifestações de oposição portando armas de fogo.
“Esses funcionários são uma exceção dentro do disciplinado departamento do Sebin”, afirmou Maduro. “Eles violaram ordens. Por que fizeram isso, não sabemos. Mas estamos investigando.”
O presidente também afirmou à BBC Mundo que “três ou quatro” funcionários foram encaminhados à Promotoria venezuelana. “Se tivessem sido dez, teríamos entregue os dez.”
É a primeira vez que o presidente venezuelano responde diretamente às acusações de excesso de violência por parte de funcionários estatais ou grupos armados.
ONGs internacionais vêm pedindo a investigação dessas denúncias – algo que, segundo Maduro, vai acontecer.
“Eu seria o primeiro a me colocar à frente de uma comissão especial (de investigação)”, afirmou. Ele disse ter “confiança” nas forças de segurança venezuelanas, mas admitiu que “alguns casos estão em investigação”.
Há, até o momento, ao menos oito mortos na recente onda de protestos, além de 137 pessoas detidas, segundo cifras oficiais divulgadas na sexta.
E os levantes prosseguem neste sábado. Uma multidão se aglomera no leste de Caracas, em protesto convocado pelo opositor Henrique Capriles.
Acusações
Organizações venezuelanas de defesa dos direitos humanos, como Cofavic e Foro Penal, têm compilado uma série de denúncias de pessoas que dizem ter sofrido abusos em detenções.
Um caso em especial circulou amplamente nas redes sociais: mostra o suposto estupro de uma manifestante, com um fuzil. Até o momento, o caso não foi checado de maneira independente.
Também circulam vídeos – de mais credibilidade – mostrando homens armados, sem identificação aparente, disparando contra manifestantes e contra edifícios residenciais.
Alguns deles foram identificados como membros de “coletivos”, descritos pela oposição como “paramilitares” e pelo governo como “organizações sociais”.
Um desses homens armados, segundo Maduro, está sendo investigado pela Promotoria venezuelana, acusado de disparar tiros em uma manifestação recente.
“A ordem que demos foi de aplicar a lei e respeitar os cidadãos”, declarou.
O presidente afirmou também que Capriles denunciou, ao alto escalão do governo, supostos casos de tortura registrados nos protestos.
“Mas estou há uma semana esperando que ele me traga (provas)”, disse o presidente. “Se forem verdadeiras, puniremos os funcionários responsáveis e os entregaremos à Promotoria. Para torturar é preciso que alguém dê ordens, e o comandante (ex-presidente Hugo) Chávez nunca deu essa ordem. E nós viemos dessa escola.”