Fernando Báez Sosa e sua família precisavam de justiça. Três anos se passaram desde o evento que lamentou a sociedade argentina. Fernando foi brutalmente espancado até a morte por um grupo de colegas em uma pista de boliche em Villa Gesell. Parece necessário fazer algumas reflexões a partir do tratamento do caso na mídia, a fim de contribuir para um debate um pouco mais aprofundado sobre os motivos que desencadeiam esse tipo de violência.
A primeira circunstância que se destacou com a notícia –lembremo-nos– foi a condição de ‘rugbiers’ dos agressores. Coincidentemente, há pouco tempo foi divulgado na mídia que um grupo de jovens de Mendoza, que jogava rúgbi, estava envolvido no estupro de uma mulher de 24 anos. No entanto, esses meninos foram posteriormente demitidos.
Não escapa a ninguém que o mundo do rugby tem uma imagem negativa na sociedade há muito tempo. E que essa imagem foi alimentada pelas próprias atitudes que se reproduzem entre alguns participantes que ostentam sua pertença a setores privilegiados, com certos costumes estéticos, discriminação e até violência. Mas seria injusto perder de vista que este desporto também é praticado por pessoas que têm como valores a solidariedade e a camaradagem sem distinção. Não faltam exemplos na Argentina e no mundo.
O Rugby é um esporte nobre, precisamente coletivo, e seus princípios estão longe de promover a violência. Quantos episódios de violência física ou sexual já vimos perpetrados por dirigentes de diferentes disciplinas desportivas que não o rugby?
Esta não é uma defesa do rugby, muito menos dos agressores de Fernando Báez Sosa que praticava este esporte. O que se pretende é fornecer um ponto de vista baseado em fatos graves como este não pode ser analiticamente reduzido a um episódio protagonizado por um grupo de violentos cabeças-quentes, que agrediram um casal até serem espancados até a morte, mas devem ser contextualizados.
Em primeiro lugar, é preciso se perguntar: com quais valores esses jovens foram criados em suas famílias? Se o histórico de violência deles era conhecido, o que o clube onde alguns deles jogavam rúgbi fez a respeito? A família e as instituições estão localizadas na sociedade. Então, o que se passa na nossa sociedade em que um pequeno grupo de jovens, de férias na praia, em vez de usufruir de um local especialmente concebido para essas multas, passa a espancar outro até à morte, antes de ostentar um comportamento classista e discriminatório?
seguramente esta dimensão do caso escapou à comunicação social e a sua apresentação centrou-se na exploração de aspectos emocionais, o que acabou por desenvolver e alimentar um clima de indignação social que clamava por respostas punitivas beirando a irracionalidade.
A nível emocional, é angustiante cada vez que o caso de Fernando surge numa conversa familiar ou de amizade, em que a empatia inevitavelmente nos faz colocar-nos no lugar do seu círculo íntimo e tomar consciência de que qualquer um pode estar a viver aquele doloroso drama.
Mas a abordagem da violência e sua resposta por parte do Estado não se resolvem em termos emocionais, nem podem ser reduzidas a um promíscuo e fugaz cenário midiático. O problema continua e os assassinos de Fernando passarão muitos anos presos. Algo tem que ser feito com eles. Mais urgente é o debate social.
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