A figura do “bebota” parecia ter ficado para trás. A fantasia masculina da jovem virgem, infantil e inocente sempre foi um estereótipo de uma atração sexual que, graças ao progresso social e em grande parte ao impulso dos movimentos de reivindicação dos direitos das mulheres, foi marginalizada. No entanto, a curiosidade por trás dessa fantasia não só parece continuar subjacente a alguns setores da sociedade, como também é utilizada comercialmente.

do cantor emilia mernes posando com rsexy opa cercado por brinquedos infantis e mesmo com um ursinho entre as pernas Até a marca balenciaga Fazendo uma campanha publicitária em que crianças muito pequenas posam ao lado de objetos sadomasoquistas, persiste a infantilização da sexualidade. Inclusive, como no caso da marca de moda espanhola, com exemplos mais próximos da pedofilia do que da ideia de gerar morbidez.

Até Camila, uma das participantes do Big Brother, embora maior de idade, recorre ao papel de bebota para cair nas boas graças de Alfa, a mais velha da casa. Assim, gera-se uma situação que se assemelha ao esquete de Alberto Olmedo com Adriana Brodsky ou ao de Guillermo Francella com Julieta Prandi, ambas etapas cômicas que foram “canceladas” com o tempo e devido ao progresso e conscientização de parte da população.

controverso

Balenciaga apresentou sua nova coleção com uma campanha fotográfica em que viu crianças posando com alguns produtos da marca, mas também apresentou objetos no estilo BDSM, o grupo de práticas eróticas que inclui Escravidão, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e masoquismo. As críticas à empresa multiplicaram-se rapidamente nas redes sociais e a Balenciaga teve de retirar a publicidade e a empresa pediu desculpas.

“Existe uma hipersexualização dos jovens e crianças porque há uma fantasia em alguns adultos, muitas vezes negada e reprimida, mas existe, o que inclui os menores. Isso não só é proibido como obviamente punível por lei, mas não significa que essas campanhas busquem despertar essa fantasia”, explica o psicólogo e sexólogo Mauricio Strugo ao NEWS.

Já na idade adulta, o que ao menos não configura crime, mas apostando na bebedor de marketing juntou-se a Emilia Mernes. A cantora posou para uma produção de fotos com roupas sensuais, mas o contexto das imagens também deixou rejeição. Nas fotos, ela pode ser vista posando sexy entre brinquedos, uma casa de bonecas e até mesmo colocando um ursinho de pelúcia em seus órgãos genitais. A artista carregou as fotos em sua conta do Instagram e escreveu: “A estética do núcleo da loja de brinquedos é muito boa”, embora tenha excluído rapidamente a publicação devido às críticas dos internautas. “Situações como essas não são inocentes e eles estão preparados. Existem até estudos que mostram o impacto efetivo que imagens como essa têm e que há quem as consuma porque gera erotismo. Por isso muitos artistas acompanham suas músicas ou videoclipes com essa estética”, diz Strugo. Com efeito, além de Mernes, Tini Stoessel e Cazzu, outro dos cantores do momento, são frequentemente criticados por sua estética infantil e sua sexualização da infantilidade.

Da outra calçada, sem nomear nenhum de seus colegas, Lali Esposito divergiu dessa tendência: “Na música latina há um jeito de ser sexy que pessoalmente muitas vezes me parece infantil”, disse ele, deixando claro que a estética infantil, infantil e ingênua é a que prevalece hoje entre os artistas do momento e também o que a indústria exige.

Estratégia

A sedução infantil também tem sua contrapartida dentro da casa mais famosa do país. Em Grande Irmão, Camilaum dos últimos participantes a entrar na competição não hesitou em se aproximar e criar um vínculo com Walter “Alfa” Santiago, um dos favoritos do público e o mais longevo da casa com 61 anos. A amizade que se transformava em sedução inclui, por um lado, a própria Camila dizendo que ele a lembra de seu pai desaparecido recentemente e o próprio Alfa a cortejando e aclamando que “não há idade” para o amor.

O flerte então se divide em papéis dela interpretando o ingênuo e ele interpretando o homem experiente. Camila até com ela roupas infantis e até ursinho de pelúcia é colocado no lugar do “bebota”. “Há uma diferença muito grande neste caso e é que ambos são adultos e isso muda tudo. Cada um pode ter sua fantasia ou sua sexualidade mórbida que choca ou não os demais, mas são situações individuais que não podem ser parametrizadas”, detalha Strugo.

Além disso, o contexto em que ela acontece, isolada, sendo filmada 24 horas por dia e lidando com um jogo de popularidade com o público e sobrevivência, pode ser apenas uma ferramenta que ela usa para prolongar sua permanência em casa. “Não podemos esquecer que é um reality show e não deixar de tentar ver o que vende mais”, resume o especialista.

Assim, apesar dos avanços sociais e das mudanças de paradigmas, de alguma forma a infantilização da sexualidade ainda se faz presente. Como estratégia de marketing ou mesmo para não ficar de fora de um reality show, a curiosidade proibida não foi banida.

galeria de imagens