• Alberto Nájar
  • Da BBC Mundo na Cidade do México

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Um dos prédios subterrâneos projetados para a Praça da Constituição, na Cidade do México

De fora, eles se parecem como três grandes cones de vidro enterrados na terra. Mas são a entrada de luz e ar para um shopping subterrâneo gigante no oeste da Cidade do México.

Este é um dos novos projetos realizados na capital que, segundo seus idealizadores, podem ser uma alternativa para controlar o tamanho de uma das maiores cidades do mundo: a construção de prédios sob a terra.

Além do centro comercial, chamado de Garden Santa Fe, um aquário, do empresário Carlos Slim, considerado o maior da América Latina, também foi construído debaixo da terra.

Existe, ainda, um projeto para construir um complexo de 65 pisos subterrâneos com escritórios e lojas sob a emblemática praça central da cidade, a da Constituição, também conhecida como Zócalo.

Apesar de existirem prédios residenciais e comerciais que utilizam pisos subterrâneos como estacionamentos, as construções abaixo da terra são uma novidade no país.

Mas, para alguns, a questão é polêmica, já que várias regiões da capital mexicana eram um lago e são consideradas vulneráveis a tremores.

Os empreendedores por trás dos complexos subterrâneos, no entanto, garantem que a tecnologia atual permite construções sem riscos em qualquer região da capital mexicana.

Cones de luz e ar

O centro comercial Garden Santa Fe foi construído em um parque quase abandonado e frequentemente usado como estacionamento de veículos, disse à BBC Mundo Francisco Montes de Oca, diretor da Arquitectoma, empresa que desenvolveu o projeto.

Originalmente, o plano era construir um estacionamento, algo necessário na zona oeste da capital, área com mais de 56 edifícios empresariais e onde muitos trabalhadores se deslocam por automóveis.

No Garden Santa Fe, foram utilizadas técnicas de construção desenvolvidos no Reino Unido, nas quais um muro de concreto é construído em torno da escavação para evitar deslizamentos de terra.

Os cones de vidro visíveis a partir da superfície permitem a entrada de ar e luz solar, o que reduz significativamente a iluminação artificial e, portanto, reduz o consumo de energia, dizem os empreendedores.

Além disso, manteve-se um parque com jardins e árvores na superfície. Sob ele, são 65 mil metros quadrados de área construída, em seis níveis: dois para lojas e quatro para estacionamentos.

Nesta área da Cidade do México, o solo é mais resistente do que no centro, disse Montes de Oca, o que reduz o risco de danos por tremores.

Construções subterrâneas podem ser uma alternativa para a Cidade do México, cuja área de 1.495 quilômetros quadrados tem poucas regiões ainda disponíveis para ocupação.

“Acho que é um absurdo crescer horizontalmente. A cidade tem crescido a tais dimensões que as pessoas que tentam chegar a seus trabalhos levam duas ou três horas. É realmente um absurdo”, disse Montes de Oca.

Aquário subterrâneo na Cidade do México (BBC)
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Aquário subterrâneo na Cidade do México é o maior da América Latina

A razão principal pela qual o Aquário Inbursa foi construído sob a terra é que o seu proprietário, o Grupo Carso, de Slim, não queria que nada atrapalhasse a vista do Museu Soumaya, onde é exibida a coleção particular do empresário, que inclui obras de Rodin, Salvador Dalí e Tintoretto, entre outras.

Mas também foi uma decisão prática: o terreno disponível para construí-lo não teria espaço para abrigar 1,7 milhões de litros de água do mar, 230 espécies diferentes, 500 exemplares e todas as instalações necessárias para mantê-los, disse à BBC Mundo Edgar Delgado, um dos projetistas do aquário.

Assim, o complexo localizado no noroeste da Cidade do México foi desenvolvido em quatro níveis a 25 metros abaixo da terra.

O passeio dos visitantes inicia-se no terceiro subsolo, onde estão as espécies que vivem à maior profundidade no mar.

A construção é cercada por um muro para evitar deslizes e movimentos do terreno – a alguns metros dali, há uma área de circulação de trens cargueiros.

Rasgando a terra

Um dos projetos mais polêmicos se chama Rascasuelos, e consiste em construir uma pirâmide invertida de 65 pisos subterrâneos para abrigar escritórios e lojas sob a principal praça do país, a Zócalo, na capital mexicana.

A pirâmide teria um vazio no espaço central para permitir a circulação de ar e a entrada de luz natural, apesar de toda a estrutura planejada ser de concreto para conter a pressão da terra.

A obra tem custo estimado de US$ 769 milhões (cerca de R$ 1,7 bilhão) e foi projetada pelo grupo Bunker Arquitectura.

O prédio está na fase de projeto, mas sua apresentação pública causou polêmica, pois a área onde planeja-se sua construção foi o coração de Tenochtitlán, a capital do povo asteca, que foi construída dentro de um lago.

Sob a Zócalo, existem vestígios da cultura pré-hispânica. À margem da praça, estão alguns dos edifícios mais antigos e emblemáticos do México. É, também, uma zona muito vulnerável a tremores.

Os responsáveis pelo Rascasuelos, no entanto, afirmam que o projeto não afetará a região e que a técnica de construção prevê o risco dos movimentos de terra.

No centro da Cidade do México, existem normas para restringir o tamanho de arranha-céus. Mas os limites são diferentes para aqueles sob a terra.