A Rainha Elizabeth 2ª, do Reino Unido, “ronronou” quando recebeu do primeiro-ministro do país, David Cameron, a notícia sobre a vitória do ‘não’ no plebiscito de independência da Escócia.
Na Inglaterra, “ronronar” equivale a expressar uma vibração positiva, porém de forma sutil.
A declaração envolvendo a monarca foi captada por microfones de emissoras de TV enquanto Cameron conversava com o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg durante visita aos Estados Unidos para a Cúpula do Clima da ONU.
O premiê britânico também disse ao bilionário americano que “nunca ouviu alguém tão feliz” com o resultado do plebiscito.
O Palácio de Buckingham se recusou a comentar as falas do primeiro-ministro.
No plebiscito, ocorrido na última quinta-feira (18), 55% dos eleitores votaram a favor da permanência da Escócia no Reino Unido.
Cameron, cujo Partido Conservador fez campanha pelo ‘não’, discorreu sobre o resultado da votação enquanto caminhava com ex-prefeito durante visita ao prédio da sede da agência Bloomberg em Nova York.
Ao lembrar que havia telefonado à rainha para dizer que estava “tudo certo”, Cameron falou: “Ela ronronou do outro lado da linha. Nunca ouvi ninguém tão feliz”.
O premiê britânico também criticou as pesquisas de intenção de voto feitas às vésperas do plebiscito, algumas das quais indicavam uma possível vitória do ‘não’.
“[A diferença] nunca deveria ter sido tão pequena. Não foi o que aconteceu no fim das contas, mas em determinado momento no meio da campanha…eu disse que quero descobrir quem fez essas pesquisas e processá-las pelas minhas úlceras estomacais justamente pelo que eu passei. Foi muito angustiante”.
Em entrevista à BBC Escócia, o chefe do Executivo escocês, Alex Salmond, que anunciou sua renúncia do cargo na semana passada após o resultado do plebiscito, criticou a declaração do premiê britânico.
“David Cameron já é primeiro-ministro há quatro anos e ainda não aprendeu as regras básicas de civilidade, especialmente sobre fofocar com Michael Bloomberg ou qualquer outra pessoa sobre o que Sua Majestade a Rainha falou ou não falou”, afirmou Salmond.
“[A atitude de Cameron] é absolutamente patética e ele deveria estar profundamente envergonhado dela”, acrescentou.
O Palácio de Buckingham e Downing Street (residência oficial e escritório do primeiro-ministro britânico) afirmaram que não fariam nenhum comentário sobre as declarações de Cameron.
Após o resultado do plebiscito, a rainha disse acreditar que a Escócia se uniria “em um espírito mútuo de respeito e apoio”, apesar de “sentimentos fortes e emoções contrastantes”.
Além de quebrar o protocolo, a fala de Cameron cria desconforto para a monarca.
Há poucas semanas da realização do plebiscito, o Palácio de Buckingham se viu obrigado a divulgar um comunicado desmentindo boatos de que a rainha estaria preocupada com uma eventual independência da Escócia.
Também não se sabe qual será o impacto político da declaração de Cameron nas eleições do ano que vem, previstas para maio. Ele pretende concorrer à reeleição.
No Reino Unido, uma vez definido, o nome do primeiro-ministro tem de ser aceito pela rainha. A anuência, no entanto, é meramente cerimonial e a monarca costuma ratificar a escolha do governo eleito.