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Turquia enfrenta dificuldades para cuidar da grande leva de refugiados curdos que entrou no país no fim de semana

A Turquia fechou partes de sua fronteira síria nesta segunda-feira, em meio ao temor de que o atual fluxo de refugiados curdos fugindo do grupo que se auto-declara Estado Islâmico na Síria aumente ainda mais.

Nos últimos três dias, cerca de 130 mil curdos entraram na Turquia. Segundo o vice-primeiro-ministro turco, Numan Kurtulmus, o país já está preparada para o “pior cenário”: “uma onda de refugiados que possa ser medida em centenas de milhares”.

“Eu espero que nós não tenhamos que encarar uma onda de refugiados maior, mas, se tivermos, nós já tomamos nossas precauções.”

O fluxo de refugiados elevou a tensão na fronteira e, no domingo, forças de segurança turcas entraram em conflito com manifestantes curdos que protestavam em solidariedade aos refugiados.

Alguns dos manifestantes estariam tentando ir para a Síria para lutar contra o “Estado Islâmico”, que assumiu o controle de grandes áreas na Síria e no Iraque nos últimos meses.

A maioria dos refugiados é de Kobane, uma cidade ameaçada pelo avanço dos militantes e onde a maioria dos moradores é curda.

Fuga em massa

Antes mesmo desta fuga em massa registrada no final de semana, havia mais de 1 milhão de refugiados sírios na Turquia. Eles começaram a chegar desde a insurgência contra o presidente Bashar al-Assad, há três anos.

Os recém-chegados estão sendo abrigados em escolas já repletas de pessoas, e a Turquia enfrenta dificuldades para lidar com eles.

Segundo a Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), a Turquia precisa urgentemente de ajuda para cuidar desta nova leva de refugiados, a maior em um período tão curto de tempo desde o início dos conflitos na Síria, em 2011.

Na sexta-feira, a Turquia havia aberto um trecho de 30 km de sua fronteira para sírios que fugiam de Kobane, também conhecida como Ayn al-Arab.

Mas, nesta segunda-feira, só dois dos nove postos de fronteira nesta área permaneciam abertos, segundo a Acnur.

Hostilidade histórica

Segundo Mark Lowen, correspondente da BBC na Turquia, além do grande número de refugiados, existe o agravante da hostilidade histórica entre turcos e sírios curdos.

Por 30 anos, forças turcas lutaram contra rebeldes curdos em uma guerra civil que matou 40 mil pessoas.

“O fato de a Turquia aceitar que eles entrem é uma prova de como o massacre promovido pelo ‘Estado Islâmico’ está forçando uma mudança nas posições políticas. Mas existe uma profunda tensão entre turcos e curdos, que veio novamente à tona nos conflitos registrados no último domingo”, diz Lowen.

“Os turcos temem que os refugiados estejam cruzando a fronteira para se juntar a milícias curdas e que, com os recrutas, elas possam realizar novos ataques na Turquia. Junto com os refugiados, essas complexidades regionais tornam a situação precária por aqui.”

Conflitos

Conflito na fronteira entre Turquia e Síria (AP)

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Hostilidade histórica entre curdos e turcos tornam situação na fronteira ainda mais precária

Os conflitos de domingo irromperam do lado turco da fronteira. Manifestantes jogaram pedras contra integrantes de forças de segurança, que responderam lançando bombas de gás lacrimogêneo e usando canhões d’água. Não houve relatos de feridos.

As forças turcas tentavam impedir que combatentes curdos entrassem na Síria para defender Kobane.

O Partido dos Trabalhadores do Curdistão, grupo foi banido na Turquia depois de lutar uma guerra civil por décadas em nome da autonomia para os curdos do país, pediu que curdos se unissem ao combate ao “Estado Islâmico”.

O ataque a Kobane começou na última quinta-feira. No domingo, militantes estavam a cerca de 10km da cidade, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos.

Relatos indicam que o “Estado Islâmico” vem usando armamento pesado, inclusive tanques, no ataque.

Ataques

Os Estados Unidos já disseram que atacarão o grupo também na Síria como parte de sua estratégia par destruí-lo.

Até agora, os americanos têm realizado ataques aéreos contra o “Estado Islâmico” apenas no Iraque.

O presidente americano, Barack Obama, disse que não usará tropas em terra para atacar o grupo. Em vez disso, prometeu fornecer armamentos e treinamento a forças locais.

No Reino Unido, o primeiro-ministro Tony Blair disse à BBC no último domingo que ataques aéreos podem não ser suficientes.

“Não devemos excluir a possibilidade de usar forças especiais se isso for necessário”, ele disse.