A literatura é a área em que mais latino-americanos foram laureados com prêmios Nobel. Ao todo, seis autores receberam a prestigiada premiação. Gabriel García Márquez, que morreu na quinta-feira, aos 87 anos, foi um dos que fizeram parte do seleto grupo.
A BBC Mundo, seção hispânica da BBC, enumerou os cinco grandes escritores latino-americanos que compartilharam a honraria com o escritor colombiano. Confira.
Gabriela Mistral (Chile, 1889-1957)
A poetisa chilena Gabriela Mistral (pseudônimo escolhido por Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga) foi a primeira latino-americana – e até agora, a única mulher da região – a receber o prêmio Nobel de Literatura (1945).
Vinda de uma família humilde, Mistral começou a trabalhar como professora em uma escola estadual. Apesar de nunca ter tido filhos, seus maiores interesses eram a infância e a educação.
Por seu trabalho incansável nesse campo, chegou a ser conhecida como “a professora da América”.
Em sua poesia, multiplicam-se elementos do mundo rural em uma época em que outros escritores se dedicavam a escrever sobre as grandes cidades.
“Represento a reação contra a forma puritana do idioma metropolitano”, disse ela certa vez.
Mistral também promoveu a união cultural da América Latina.
Entre suas principais obras estão Sonetos de la muerte (1914), Desolación (1922), Ternura (1924) e Tala (1938).
Miguel Ángel Asturias (Guatemala, 1899-1974)
Miguel Ángel Asturias ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1967, exatamente no mesmo ano em que Gabriel García Márquez publicou Cem anos de Solidão.
Quando jovem, viajou a Paris para estudar antropologia e ali se dedicou a aprofundar seus conhecimentos sobre a cultura maia.
Na França, entrou em contato com a vanguarda e os surrealistas. Além disso, trabalhou em uma tradução para o espanhol do Popol Vuh, considerado o livro sagrado dos maias.
Junto com os escritores Arturo Uslar Pietri e Alejo Carpentier, Asturias se apropriou do termo “realismo fantástico”, originalmente usado por um crítico de pintura alemão, para denominar um tipo de literatura latino-americana.
Uma de suas obras mais estudadas é seu romance Hombres de maíz. Nele, o autor gualtemalteca narra a tensão entre os universos dos indígena e dos ladinos (como eram chamados os índios que falavam espanhol e adotavam costumes ocidentais).
No centro desse conflito, está possivelmente o seu personagem literário mais célebre, Gaspar Ilóm.
Outras de suas obras mais aclamadas é El señor presidente, que relata os abusos de poder em uma ditadura latino-americana.
Asturias chegou a acusar García Márquez de ter plagiado Cem Anos de Solidão. A crítica quanto à originalidade da obra desprestigiou o gualtemaco entre os literatos do chamado “boom latino-americano”.
Pablo Neruda (Chile, 1904-1973)
Pablo Neruda foi o segundo escritor chileno a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1971.
Foi também um dos poetas latino-americanos mais influentes do século 20, não apenas na América Latina, mas também em âmbito global.
Poeta, diplomata e ativista político, Neruda foi uma personalidade paradigmática das letras e da esquerda latino-americanas.
Sua poesia trata de temáticas universais.
Seu nome de batismo era Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, mas escolheu o pseudônimo Pablo Neruda em homenagem ao poeta tcheco Jan Neruda.
Em 1923, o chileno publicou seu primeiro livro de poemas, Crepusculario. Um ano depois, lançou a coleção de poemas Veinte poemas de amor y una canción desesperada, marcada pelo erotismo e pela melancolia que teve bastante sucesso entre o grande público.
Entre as suas obras mais estudadas pela crítica, estão Residencia en la tierra y Canto General.
Octavio Paz (México, 1914-1998)
Octavio Paz é um dos poetas e ensaístas mexicanos mais reconhecidos e controversos da América Latina.
Ele nasceu em um subúrbio da capital Cidade do México em 1914, no auge da Revolução Mexicana.
Ainda que tenha ingressado na universidade, não obteve diploma. No entanto, chegou a ser considerado um erudito autodidata.
No início, a poesia de Octavio Paz foi pautada pela justiça social e pelo sentimento antifascista.
Nessa fase de sua carreira, suas obras refletem certa influência de Rubén Darío, Xavier Villaurrutia e do chamado grupo dos Contemporâneos.
Depois de uma prolongada estadia em Paris, durante a qual conheceu os surrealistas, Paz se distanciou da temática social e passou a focar mais aspectos metafísicos.
Seus ensaios abordam temas muito diversos, entre eles o erotismo, a mitologia, a Malinche (indígena que teve papel decisivo na Conquista do México), a figura do Pachuco (jovem mexicano que integra gangues de rua) e Sóror Juana Inés de la Cruz (religiosa nova-espanhola considerada uma das últimas grandes escritoras do Século de Ouro).
Paz ganhou o Nobel de Literatura em 1990.
Mario Vargas Llosa (Perú, 1936)
O escritor peruano Mario Vargas Llosa faz parte do panteão literário de um país que inclui outros grandes autores, entre os quais José María Arguedas e César Vallejo.
Vargas Llosa nasceu em Arequipa e estudou direito e literatura na Universidade de San Marcos, em Lima.
O seu nome está vinculado ao chamado boom da literatura latino-americana, um grupo de escritores que na década de 60 alcançou prestígio internacional e altas vendagens, entre os quais Carlos Fuentes, Julio Cortazár, José Donoso e García Márquez.
Em 1990, incursionou pela política, lançando-se candidato à presidência do Peru. Perdeu as eleições para um então desconhecido, Alberto Fujimori.
Escritor prolífico de romances e articulista de jornais, suas ideias políticas geraram grande controvérsia.
Em sua juventude, teve uma relação próxima a García Márquez. No entanto, se distanciaram por causa de supostas desavenças pessoais e diferenças políticas.
Em 1993, Vargas Llosa obtém a dupla nacionalidade e passa a ser também cidadão espanhol.
Entre seus romances mais aclamados estão A cidade e os cachorros, A Casa Verde, Tia Júlia e o Escrevinhador, Conversa na Catedral, A Guerra do Fim do Mundo e A festa do bode.
Ele recebeu o Nobel em 2010.