Às vésperas da votação do plebiscito sobre a independência escocesa do Reino Unido, acirram-se os ânimos entre as principais partes envolvidas na disputa. Enquanto o primeiro ministro britânico David Cameron discursa para convencer os escoceses do “Não”, o chefe do Executivo da Escócia, Alex Salmond, endossa sua campanha pelo país independente.
Em Aberdeen, o premiê britânico fez quase que um apelo emocional naquela que deve ser sua última visita à Escócia antes de quinta-feira, data do plebiscito que decidirá pelo sim ou não à independência escocesa.
“Essa é uma decisão que pode acabar com a nossa família de nações e arrancar a Escócia do resto do Reino Unido. Seria como um divórcio para nós”, discursou o primeiro ministro.
Do outro lado, Alex Salmond, que também é o principal líder pró-independência, disse que estão querendo fazer uma ‘campanha do medo’ para convencer as pessoas do “Não”.
Em meio à disputa entre Cameron e Salmond, o governo britânico anunciou mais uma medida como parte da ‘ofensiva’ pela não independência que começou nesta reta final para o plebiscito.
Os líderes dos três principais partidos britânicos – David Cameron, Ed Miliband e Nick Clegg – assinaram, nesta segunda-feira, o compromisso de aumentar a autonomia da Escócia, caso os escoceses rejeitem a independência na votação de quinta.
Para os favoráveis ao “Sim”, porém, a única forma de a Escócia obter mais poderes é sendo independente do Reino Unido.
Por enquanto, as pesquisas de opinião sobre o plebiscito na Escócia seguem apontando equilíbrio nas intenções de voto entre o “Sim” e o “Não”.
Voto sem volta
Em uma última tentativa para ‘conquistar’ de vez os eleitores a votarem pelo “Não”, David Cameron reiterou que o que as pessoas definirem no plebiscito de quinta-feira “não terá volta” e fez um apelo para que os escoceses pensassem nas próximas gerações ao votarem.
“Temos que ser muito claros de que esse é um caminho sem volta. Não haverá outro plebiscito, essa será uma decisão definitiva e para sempre. Se a Escócia votar “Sim”, o Reino Unido irá se dividir e nós iremos para caminhos separados juntos”, disse Cameron.
“Quando as pessoas votarem na quinta, elas não estarão votando por elas mesmas, mas pelos seus filhos, netos e as gerações que virão.”
David Cameron disse “entender” os motivos que levam as pessoas a votarem pela independência, reconhecendo que o Reino Unido “não é um país perfeito”.
Mas acrescentou: “Eu sei também que muitas pessoas que estão liderando a campanha pelo ‘Sim’ estão desenhando uma imagem de que a Escócia seria um país melhor em todos os sentidos com a independência, e eles são bons nisso. Mas quando algo parece muito bom pra ser verdade, geralmente é porque é.”
Oportunidade única
Enquanto isso, no aeroporto de Edimburgo, o chefe do Executivo escocês, Alex Salmond, fazia discurso em oposição a David Cameron e incitava a população a aproveitar o que ele chamou de “oportunidade única” para a Escócia.
Tanto Salmond, quanto os outros líderes da campanha pró “Sim”, acreditam que a independência permitirá “que a Escócia crie políticas econômicas e de geração de emprego de acordo com suas próprias necessidades, ajudando a construir uma economia mais estável para o futuro”.
Alguns dos importantes ‘homens de negócio’ que apoiam a causa do “Sim” são o presidente da Casa de Apostas William Hill, Ralph Topping, o CEO da empresa de transportes Stagecoach, Brian Souter, o representante da Scottish Enterprise, Russel Griggs, entre outros.
Em uma declaração conjunta, os empresários disseram que “a Escócia sempre teve a riqueza, o talento e os recursos.”
Alex Salmond também aproveitou para criticar o posicionamento do premiê britânico David Cameron com relação ao plebiscito, dizendo que ele criou uma “campanha do medo” contra a aprovação da independência da Escócia.
“O governo britânico tem orquestrado uma tempestade implacável de histórias de medo e terror. Mas enquanto a campanha do “Não” tentam colocar a Escócia para baixo, nós estamos nos concentrando na oportunidade”, afirmou Salmond.
O chefe do Executivo da Escócia ainda disse que Cameron foi “pego em flagrante” motivando supermercados e outros tipos de negócio a falarem contra a independência escocesa.
Os chefes de três grupos de varejo britânicos – Marks and Spencer, B&Q owner Kingfisher e Timpsons – assinaram uma carta divulgada pelo Daily Record no sábado, dizendo que uma possível independência da Escócia faria com que os custos dos produtos subissem e que isso os forçaria a tomar a “difícil decisão” de repassar esses custos aos consumidores.
As campanhas pelo “Sim” e pelo “Não” à independência da Escócia continuam a todo vapor, enquanto as pesquisas ainda mostram muito equilíbrio nos resultados, sem a possibilidade de se ter uma previsão exata do que deverá acontecer na quinta-feira.
Três pesquisas divulgadas no último final de semana apontaram o “Não” em primeiro lugar, enquanto uma indicou que o “Sim” seria o vencedor.
A mais recente “pesquisa das pesquisas”, confrontando as seis pesquisas mais recentes – realizada entre os dias 9 e 12 de setembro e excluindo os “indecisos” – coloca o “Não” com 51% das intenções de voto, e o “Sim” com 49%.
Enquanto isso, nos bastidores, políticos e famosos fazem campanha para conquistar os eleitores. O ex-jogador de futebol David Beckham declarou seu apoio ao “Não” pedindo o voto das pessoas para renovarem um “laço histórico” entre os países do Reino Unido.
Já a famosa estilista inglesa Vivienne Westwood se disse a favor da independência da Escócia.
Na política, a vice-primeira ministra escocesa Nicola Sturgeon argumentou que os aposentados deveriam votar pela independência para garantir que seus netos tenham oportunidades que, de acordo com ela, foram negadas às gerações anteriores por anos e anos de governos conservadores.
Já os trabalhistas John Reid, Johann Lamont, Margaret Curran e Anas Sarwar se encontraram com trabalhadores da BAE Systems (fabricante de navios) em Glasgow para alertar o risco de perda de emprego na Escócia em indústrias como as de fabricação de avião, serviços civis e financeiros em caso de vitória do Partido Nacional Escocês.