Os brasileiros e familiares que deixaram a Faixa de Gaza na manhã de domingo (12) chegaram na noite desta segunda-feira (13) ao Brasil.
A aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) que transportou o grupo de 32 pessoas pousou em Brasília às 23h24. Poucas horas antes, o avião havia feito uma rápida parada técnica em Recife, de onde partiu para a capital às 21h07.
Os passageiros vindos de Gaza dormirão nas acomodações da Base Aérea de Brasília e depois seguirão para diferentes partes do Brasil. Na base, receberão alimentação e poderão ter também atendimento no Hospital de Força Aérea de Brasília.
A inclusão do Brasil na lista dos países autorizados a repatriar seus cidadãos foi confirmada pelo Itamaraty na quinta-feira (09).
Por isso, a saída dos brasileiros era esperada desde sexta (10), mas a fronteira fechou por problemas diplomáticos entre Egito e Israel, segundo uma fonte ouvida pela BBC News Brasil.
Na manhã de domingo, eles finalmente conseguiram cruzar a fronteira para o Egito. Acompanhados por diplomatas brasileiros, eles seguiram viagem de ônibus para a capital, Cairo, onde foram recebidos por uma equipe da embaixada brasileira e pernoitaram. O voo com destino ao Brasil partiu do Egito na manhã dessa segunda-feira.
Na sexta-feira, o secretário nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, detalhou o planejamento para a acolhida do grupo de brasileiros.
“Alguns brasileiros já têm destino certo porque têm familiares aqui, então serão deslocados para esses locais. Uma parcela significativa, quase a metade do grupo, não tem onde ficar, mas o governo dederal já disponibilizou, através do Ministério do Desenvolvimento Social, um local onde essas pessoas ficarão acolhidas. Vai ser no interior de São Paulo”, afirmou Botelho.
O secretário não disse em qual cidade, mas afirmou que é um local que tem experiência na recepção de estrangeiros e refugiados.
Segundo Botelho, assim que chegarem, os repatriados serão atendidos por equipes multidisciplinares abrangendo médicos, enfermeiros, assistentes sociais, profissionais da Polícia Federal (para ajudar com a regularização de documentos) e de agências da ONU, com intérpretes.
O grupo de brasileiros e seus familiares dessa primeira lista estava dividido entre duas cidades palestinas antes de se deslocar para as proximidades da fronteira: 18 estavam na cidade fronteiriça de Rafah, que liga a Faixa de Gaza ao Egito; e 16 em Khan Yunis, perto da mesma fronteira.
De acordo com o Itamaraty, duas pessoas desistiram de ir para o Egito e ficaram em Gaza.
O governo brasileiro disse que não daria informações detalhadas sobre os “motivos pessoais” das duas pessoas que desistiram, em respeito à sua privacidade.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que uma delas era menor de idade e a outra seria a responsável adulta da menor — mãe ou avó. Ambas desistiram de deixar Gaza antes de cruzar a fronteira, segundo o ministro.
A retirada dos brasileiros ocorre após semanas de incertezas, tratativas e crises diplomáticas.
O grupo ficou de fora das sete primeiras listas de estrangeiros autorizados a deixar o território palestino — até agora, centenas já cruzaram a fronteira, entre 300 a 600 por dia.
A demora para a liberação dos brasileiros acabou estremecendo as relações entre Brasil e Israel.
A tensão entre os dois países foi intensificada por outros episódios recentes, como o encontro entre o embaixador do país no Brasil, Daniel Zonshine, com parlamentares de oposição e com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL); e as declarações de autoridades israelenses sobre uma operação da Polícia Federal que prendeu dois brasileiros suspeitos de fazerem parte do Hezbollah e planejarem uma série de ataques no Brasil.
Nas redes sociais, perfis bolsonaristas vêm politizando a liberação dos brasileiros em Gaza, atribuindo o feito ao ex-presidente Bolsonaro, que afirmou ter pedido ao governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu a saída deles.
Em 7 de outubro, combatentes do Hamas fizeram um ataque surpresa contra Israel, matando 1,4 mil pessoas e fazendo outras 200 reféns, segundo autoridades israelenses.
Israel lançou, em retaliação, uma campanha militar em Gaza que já matou mais de 11 mil pessoas, sendo mais de 4,5 mil crianças, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.
Desde então, o governo brasileiro emitiu notas condenando os ataques e tentou viabilizar uma resolução no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que previa um cessar-fogo.
A resolução, no entanto, não foi aprovada.