Quando se fala no uso do laser no corpo humano, geralmente se pensa em certos tipos de tratamentos relacionados à medicina estética, como depilação, rejuvenescimento, remoção de rugas, melhora da flacidez, remodelação do contorno corporal. No entanto, a aplicação de diferentes tipos de luz também existe em áreas como a dermatologia, oftalmologia, urologia, flebologia.

Assim, é usado para tratar cicatrizes de vários tipos e origens, manchas na pele, onicomicose (fungo nas unhas), remoção de tatuagens, terapia para tratar melasma e rosácea e até mesmo a fase inicial da incontinência urinária.

“Para cada entidade utilizamos um tipo diferente de laser (ablativo – não ablativo) ou uma combinação deles, com determinado comprimento de onda, com diferentes modos de emissão (puro – pixelado), também utilizamos luzes intensas pulsadas”, explica às NOTÍCIAS a médica de família especialista em medicina estética María Inés Reig, da Terra do Fogo.

E exemplifica: “Se quisermos tratar rosáceas, vasinhos na pele ou varizes mais profundas, nosso alvo são os vasos, e tanto para lesões vasculares superficiais como profundas, utilizamos o Laser ND:YAG e a Luz Intensa Pulsada em seus 540 e versão Dye. Por outro lado, se quisermos reestruturar a pele após uma cicatriz causada por trauma ou após cirurgia, usaremos lasers não ablativos QS Switched 1064 nm pixelados, Erbium, laser ablativo de CO2 ou sua combinação (Alma Hybrid) para estimular o fibroblasto que é o nosso pedreiro, a célula que gera colágeno e elastina, necessários para reparar a pele”.

Os especialistas podem utilizar um determinado laser, ou uma combinação deles, além de outras terapias associadas à aplicação de substâncias. Um exemplo clássico deste último ocorre quando um paciente tem cicatrizes.

“Primeiro você tem que levar em conta que tipo de gravidade eles têm, quão profundos eles vão, que tipo de cicatrizes eles são. Porque até no caso da acne há diferenças, não são todas iguais -explica a dermatologista Irene Bermejo, com mais de quarenta anos de experiência, tanto em hospitais públicos como em sua clínica localizada no bairro de Belgrano-. Tem pacientes que ficam com buraquinhos, como se uma agulha tivesse sido inserida neles. Outras com cicatrizes que parecem planas, há também aquelas que parecem formar uma letra ver e outras, onduladas. Nem todos são tratados com a mesma tecnologia e também será necessário combinar várias tecnologias e completar com substâncias injetáveis, como enzimas recombinantes, ácido hialurônico, plasma rico em plaquetas, por exemplo”.

Isso acontece, detalha Bermejo, porque a fibrose existente na base da cicatriz, o que não se vê é, fazendo uma analogia, “como ter cenoura plantada que puxa para baixo. Então você quer alisar a superfície, mas também precisa desfazer aquela meada, aquela fibrose, que está lá no fundo”.

Cicatriz

Ao combinar tecnologia com substâncias injetadas, você pode trabalhar para cima e para baixo, porque injetando enzimas, por exemplo, é possível dissolver essa fibrose por meios químicos. “Outras vezes pode-se recorrer à bioestimulação, para quebrar a fibrose com uma cânula.”

Segundo a experiência de Bermejo, “na maioria dos casos as cicatrizes de acne permanecem imperceptíveis e pode-se inclusive chegar a não serem vistas, para o que é necessário ter a possibilidade de combinar tecnologias e tratamentos”. Mas também há cicatrizes, como no caso das que podem ficar após um acidente, que podem ser muito profundas ou muito abertas, que parecem ter uma costura. “O que vamos tentar nesses casos é unir as arestas. Então o laser de CO2 ablativo, que cobriu o calor, vai condensar aquela pelezinha esticada que fica no meio. Uma microlesão é gerada na pele e isso estimula o colágeno. Isso também pode ser feito com outro laser, o Hybrid, porque você vai coagulando dentro do colágeno e tentando encolher, retrair a pele e aproximar ao máximo as bordas”, descreve o especialista.

Com as demais cicatrizes com as quais são feitos os queloides, “o que você faz com o CO2 é diminuir aquela excrescência, aquele colágeno que cresceu demais, sem controle, combinando também com substâncias injetáveis. Em resumo, trata-se de usar a física do laser com o processo químico do injetável para não pedir tudo à tecnologia só porque são situações extremas”, aponta Bermejo, membro da Sociedade Argentina de Dermatologia, Associação Argentina Associação Médica e a Academia Americana de Dermatologia.

A partir de sua experiência na Clínica de Medicina Estética e Laser localizada em Río Grande, Reig descreve: “Os três tipos de cicatrizes, atróficas, hipertróficas e quelóides, podem ser tratados com tecnologias laser, independentemente de sua causa: cirúrgica, trauma, acne, queimaduras . Vários estudos clínicos mostram que os tratamentos a laser, além de regenerar o colágeno, também podem diminuir os valores do fluxo sanguíneo (que dão à cicatriz sua cor avermelhada) e aliviar a coceira.”

Se a cicatriz, por exemplo, estiver afundada, como no caso de uma cesariana, tiver sido cozida em camadas profundas (o útero, a poneurose, a gordura, o músculo e a pele) quando os pontos forem retirados, você terá para começar a mobilizar essa ferida rapidamente, fazendo tração na ferida transversalmente ou longitudinalmente. Drenagem e massagem também são necessárias para liberar a fáscia, redes em faixas de tecido conjuntivo que envolvem cada parte interna do corpo da cabeça aos pés, porque a fáscia também se une. “Nesses casos, preciso do laser de CO2 para a superfície, mas também da cinesiologia para descolar a fáscia da pele e debridar aquela ferida, e injetar enzimas que descolam a fibrose profunda”, resume Bermejo.

Adeus tatuagens. A remoção de tatuagens também é possível com lasers, sempre sob a ação de um creme anestésico para que a sessão seja o mais agradável possível. O número de sessões, o tipo de tecnologia a ser usada e o tempo que chegam, o tamanho da tatuagem em questão e a idade dela.

“Se ocupa uma porção extensa de pele, divide-a em quatro e trabalhamos em cada setor, de forma regular e alternada. Quanto mais tempo você der a tatuagem após cada sessão de laser, melhor.

Em quatro ou cinco sessões em cada área (em geral, a cada 15 dias), a tatuagem pode ser perfeitamente removida”, descreve Irene Bermejo.

Mas deve-se levar em conta que a tatuagem não contém branco, nem cor, porque às vezes os tatuadores fazem um degradê e para conseguir isso colocam tinta branca, para ir do vermelho ao rosa, por exemplo. E como o branco refrata a luz, ele não é capturado pelo laser.

“O efeito mecânico do laser Q-Switched funciona vibrando e quebrando as partículas de tinta na tatuagem”, explica Reig. Assim que a área de tratamento inicia o processo de cicatrização, o sistema imunológico elimina as partículas de tinta fragmentadas fazendo com que a tatuagem desapareça, minimizando os riscos de cicatrizes ou hipopigmentação. A tatuagem vai perdendo a cor sessão a sessão, até desaparecer completamente.

Não há contra-indicações particulares nas tatuagens “mas aquelas comuns ao tratamento a laser, como doença oncológica, gravidez, lactação”, acrescenta Reig, também formado em ginecologia.

Bermejo destaca: “Às vezes, quando a tatuagem é multicolorida, é preciso recorrer ao laser de picossegundos (um bilionésimo de segundo), que, por seu pulso extremamente curto e rápido, pulveriza qualquer coisa, o laser Alma em especial. Seu pulso é tão extremamente curto que age como uma espécie de bombardeio na pele, pulverizando a tatuagem, deixando-a em pedaços tão pequenos que podem ser removidos ou não são visíveis a olho nu. Se o tratamento for bem feito, o efeito é excelente e a pele não fica danificada”.

lesões pigmentadas

O melasma é uma pigmentação adquirida que não representa risco à saúde, mas causa desconforto social para quem o possui, pois ocupa o centro da face. “O laser não ablativo QSwitched 1064 nm pixelado fornece grandes concentrações de energia com pulsos curtos, o que permite tratamentos mais eficazes, com maior profundidade e com risco mínimo de pigmentação pós-inflamatória e danos ao tecido circundante”, indica Reig. Nesse caso, não importa a profundidade do pigmento.

No caso da rosácea, uma dermatose inflamatória, “é algo bem mais delicado, o que a gente tenta fazer é destacar a cor, tentar fechar os vasos. Queremos que aquele rosto que está vermelho clareie e aí vamos aplicar feixes ou luz intensa pulsada para tratar o sistema vascular”, diz Bermejo. Anti-inflamatórios tópicos e (quando apropriado) antibióticos para aplicação local ou ingestão oral também são aplicados.

A onicomicose também é tratável com lasers. Por efeito térmico e mecânico, a tecnologia cria uma série de ondas de choque que conseguem romper a dura camada externa do esporo do fungo, até que o microorganismo seja destruído por um efeito térmico.

Finalmente, existe um laser que pode ser usado por via intravaginal e é usado para rejuvenescimento vulvar, mas também na incontinência urinária de esforço. Nestes casos ocorrem pequenas perdas de urina quando a mulher pula durante o exercício ou mesmo quando ela ri. “O laser causa microdanos pixelados e, antes disso, o corpo vai repará-lo gerando colágeno”, detalha Reig. Todo o processo gera tensão nos tecidos e essas perdas de urina não ocorrem mais. No caso da dispareunia (falta de lubrificação durante a relação sexual) o laser provoca uma construção de colágeno, produção de novas células com ácido hialurônico e aumenta a lubrificação naturalmente”.

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